Hoje, 22 de maio, celebramos o Dia do Autor Português — uma data dedicada a homenagear aqueles que, com talento e sensibilidade, moldam a nossa identidade cultural através das palavras.
É uma oportunidade para reconhecer o valor da literatura portuguesa e enaltecer os autores que, com as suas obras, nos fazem pensar, sentir e sonhar.
Que este dia nos inspire a ler mais, a apoiar os escritores nacionais e a celebrar a riqueza da língua portuguesa em toda a sua beleza e profundidade.
1. Sophia de Mello Breyner Andresen
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não..
Este poema é um elogio à verdade, à coragem e à liberdade
2. Luís Vaz de Camões
Não sei se me engana Helena,
se Maria, se Joana,
não sei qual delas me engana.
Üa diz que me quer bem,
outra jura que mo quer;
mas, em jura de mulher
quem crerá, se elas não crêm?
Não posso não crer a Helena,
a Maria, nem Joana,
mas não sei qual delas me engana.
Üa faz-me juramentos
que só meu amor estima;
a outra diz que se fina;
Joana, que bebe os ventos.
Se cuido que mente Helena,
também mentirá Joana;
mas quem mente, não me engana.
Este poema é um belo exemplo da lírica tradicional portuguesa, com um tom leve, irónico e um toque de desilusão amorosa.
3. Eugénio de Andrade – "Urgentemente"
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas. (...)
Este poema apresenta o amor como uma necessidade vital, quase como um antídoto contra a crueldade do mundo.
4. Camões – Soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer. (...)
Neste poema Camões usa uma série de paradoxos (ideias que se contradizem) para mostrar que o amor verdadeiro não é simples nem linear — é feito de opostos que coexistem, um clássico da literatura portuguesa.
5. Mário Henrique Leiria
A Nêspera
Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia
chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a
é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece
Este poema brinca com o poder e os limites da linguagem e estimula o pensamento crítico.
6. Ary dos Santos – "As Portas que Abril Abriu" (excerto)
Esta é a madrugada que eu esperava
o dia inicial inteiro e limpo
onde emergimos da noite e do silêncio
e livres habitamos a substância do tempo.
Este poema celebra a liberdade e a Revolução dos Cravos — liga a literatura à história de Portugal.
Na Literatura infantil
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A Menina do Mar – Sophia de Mello Breyner Andresen
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